Katryn Kischlat: tattoos escritas com delicadeza

Tatuadora Katryn Kischlat

A Katryn Kischlat já estava aqui quando o estúdio ainda era apenas uma remota ideia. Sonhando junto com o Thiago Pinhas, seu marido, ela trabalhou para que o Zero21 Porto fosse o que é hoje. Mas isso foi antes de se transformar em uma das nossas artistas.

Ela ajudou a criar o estúdio e, no processo, também se transformou. Largou o jornalismo para se dedicar a escrever e desenhar letras, agora não só no papel. Hoje a Katryn traduz histórias e emoções em tatuagens escritas.

Nessa entrevista, a Katryn contou, entre outras coisas, como foi aprender a tatuar.

 

Tatuadora: Katryn Kischlat

 

A arte sempre esteve na sua vida ou foi uma descoberta recente?

Olha, acredito que a arte sempre esteve, eu só não tinha entendido (ou aceitado) que poderia ser uma profissão. Desde muito pequena eu adorava desenhar e pintar, os livros de colorir da Barbie eram um dos meus brinquedos preferidos. Quando tinha por volta de 8 anos, gostava de passar as tardes de férias na casa da minha prima, que é uma artista muito talentosa, porque ela me ensinava a desenhar. Nessa época, também brincava de criar minhas próprias revistinhas em quadrinhos, desenhando e escrevendo a história. Enquanto fui crescendo, acho que passei a acreditar que não tinha dom para a arte e fui me afastando. Acabei cursando faculdade de Jornalismo e trabalhei como repórter e também com produção de conteúdo para a internet.

E quando essa ideia de que você não tinha jeito para a arte mudou?

Mudou quando conheci o Thiago Pinhas. Contei para ele que sempre quis saber desenhar, mas achava que não tinha talento. Ele me fez entender que desenho pode ser aprendido e melhorado com estudo e treino. Comecei a aprender a desenhar com ele, depois fui procurando outras aulas e workshops.

As primeiras tatuagens

 

Como foi seu primeiro contato com tatuagem?

A primeira vez que entrei num estúdio de tatuagem foi para conhecer o lugar que o Thiago trabalhava, quando começamos a namorar, isso ainda no Rio de Janeiro. Depois voltei algumas vezes para acompanhar amigos que iam tatuar com ele. Confesso que na época não me imaginava como tatuadora, mais uma vez pensei que não tinha talento para isso.

Então como você virou tatuadora?

Quando nos mudamos para Portugal, comecei a trabalhar com ele para abrir o Zero21 Porto. No início éramos só nós dois, eu fazia o atendimento e toda a comunicação do estúdio, enquanto ele tatuava. Como eu passava muito tempo no estúdio, vendo ele tatuar, cuidando dos materiais, acabei aprendendo bastante. Mas mesmo assim, ainda não tinha começado a me interessar em aprender a tatuar. Por incrível que pareça, a ideia veio da minha mãe.

Zero21 Porto Tattoo

 

E como foi isso? Sua mãe te incentivou a aprender a tatuar?

Foi isso mesmo! A minha mãe disse que eu levava jeito para tatuagem e devia aprender com o Thiago. No início duvidei, mas a ideia foi crescendo na minha cabeça. Eu só decidi tentar quando descobri o lettering, que tinha tudo a ver comigo. Encontrei um caminho que podia me fazer juntar minha paixão por escrever com algo que semprei sonhei em fazer, que era desenhar. Enfim, eu ia desenhar letras. Então comecei a aprender com o Thiago, enquanto fazia todos os cursos e aulas de lettering e caligrafia que encontrava. 

Então temos que agradecer a sua mãe por ter você aqui com a gente?

Sim! E eu também agradeço muito. Minha mãe foi tão importante nesse processo, porque além de me incentivar a começar a aprender, ela também foi a minha primeira cobaia. Foi nela que eu fiz minha primeira tatuagem em pele de verdade (antes treinava em pele artificial, feita de borracha). Obrigada, mãe!

Depois da primeira tatuagem na sua mãe, como foi?

Para falar a verdade, depois da primeira eu quase desisti. Eu estava muito nervosa e o resultado não ficou bom o suficiente, na minha opinião. Mas acabei recebendo incentivo do pessoal do estúdio para continuar. Então tatuei o Thiago e outros artistas aqui. Depois atendi mais alguns amigos e amigos de amigos. Assim fui treinando em peles reais e ganhando mais experiência e confiança. Sou muito grata a todas essas pessoas que cederam um pedacinho de pele para eu treinar lá no início, porque elas sabiam que a tatuagem podia não ficar perfeita e mesmo assim aceitaram me ajudar. 

Para você, qual foi o maior desafio nesse processo de transição de carreira?

Acho que o maior desafio foi e ainda é superar o medo e acreditar que eu sou capaz. Trabalhar com tatuagem é uma responsabilidade imensa, porque estamos lidando com algo que vai ficar marcado para sempre na pele de alguém. Lidar com essa pressão não é fácil, eu me cobro demais para fazer tudo perfeito.

Tatuagens escritas com amor

 

Do que você mais gosta na tatuagem?

Eu adoro poder conhecer pessoas diferentes e suas histórias. E gosto ainda mais de poder ajudá-las a transmitir essas histórias e suas emoções para a pele. 

Tatuagem escrita por Katryn Kischlat

 

Até hoje, qual foi sua tatuagem mais desafiadora?

Eu já tive muitas tatuagens desafiadoras, cada uma por motivos diferentes, mas posso citar uma em especial, um pedido do meu cunhado. O Alexandre queria uma tatuagem de um símbolo matemático formado por diversos pequenos símbolos e números, para marcar a formatura dele no mestrado em Matemática. Era a maior tatuagem que eu já tinha feito até aquele momento, pegando toda a panturrilha. Além disso, eram símbolos que eu nunca tinha visto, diferentes das letras do alfabeto que já conheço e treino. Fiquei com medo de errar alguma linha de algum símbolo e acabar alterando o seu significado. Mas no final deu tudo certo e ele amou a nova tatuagem (tem foto lá no meu Instagram!).

Sua ideia é seguir fazendo apenas tatuagens escritas?

Eu realmente me encontrei escrevendo e desenhando letras. Quero continuar fazendo isso, me especializando para criar tattoos cada vez mais personalizadas e únicas. Também penso no futuro em começar a incluir alguns pequenos desenhos minimalistas nas escritas, mas não tenho ambição de fugir das minhas letras não.

 

Se quiser continuar acompanhando as escritas da Katryn, segue ela lá no Instagram.

 

Conheça também nossos outros artistas:

Marcio Valle: mais de 10 anos de tattoo

Marcio Valle é nosso artista mais experiente, nosso grande mestre. Já são mais de 10 anos trabalhando exclusivamente com tatuagem, experimentando os mais diversos estilos até chegar à sua marca artística pessoal.

Carioca como nós, o Marcio também chegou a Portugal em 2018, mas nossos caminhos só se cruzaram em 2019, quando nos conhecemos na convenção de tatuagem Oporto Tattoo. E ele era a peça que faltava para o nosso time, nossa indicação para trabalhos grandes ou com toques de realismo, além de ser nosso especialista para reformas e coberturas de tatuagem.

Vem conhecer melhor o Marcio Valle nessa conversa.

Tatuador: Marcio Valle

 

Como a arte entrou na sua vida?

Desde pequeno sempre desenhei, meus pais sempre me incentivaram. Eu tinha aula de artes no colégio e até cheguei a fazer aula de pintura quando era pequeno. Esses incentivos em casa me fizeram nunca abandonar a paixão pelo desenho.

Quando e como surgiu a curiosidade pela arte da tatuagem?

Enquanto cursava o primeiro período de arquitetura, um amigo me pediu para fazer o desenho da tatuagem dele. Quando ele foi tatuar, eu fui junto e conheci o Luiz Cláudio, o tatuador, que depois veio a ser meu professor. Fiz uma tatuagem com ele, indiquei amigos, e no meio de uma conversa, veio a ideia de eu aprender a tatuar. E nisso, decidi também mudar o curso da faculdade para desenho industrial.

Quando você começou, foi fácil decidir ser tatuador? Houve preconceito?

Quando comecei estava na faculdade, então meu foco era terminar a faculdade, mas em paralelo estava aprendendo a tatuar. Foi uma escolha meio natural, terminei a faculdade e segui com a tatuagem. Nunca senti preconceito não, na verdade tenho muito a agradecer a meus amigos e família por sempre me apoiarem.

Anos de tatuagem na mala

 

Você percebeu alguma mudança no mundo da tatuagem ao longo desses anos?
 
Acho que a tatuagem está evoluindo, ficando mais exclusiva e mais artística. As pessoas estão tendo mais acesso a boas referências, o que eleva o nível da tatuagem no geral. E os materiais também estão se modernizando, tudo indo de acordo com a evolução. Agora os tatudores já estão sendo mais vistos como artistas, e cada vez são mais bem sucedidos.

Por que você decidiu trazer sua arte para Portugal? Como foi essa mudança para você?

Eu estava há 9 anos trabalhando no mesmo estúdio em Niterói, no Rio de Janeiro, e queria mudar um pouco. Nessa época, rolou a ideia de vir abrir um estúdio em Portugal. Quando cheguei, em 2018, essa ideia acabou não indo para frente, foi meio complicado. Mas no fim conheci o pessoal do Zero21 Porto, e sigo com eles até hoje.

Tatuar em Portugal é diferente do Brasil?

Aqui em Portugal eu tenho a oportunidade de tatuar pessoas de vários países, isso é muito legal. Quanto à tatuagem em si, não muda muito, mas no Brasil as pessoas se tatuam mais e com mais frequência, isso acaba gerando ideias diferentes e trabalhos maiores.

Tatuagem de anjo realista do Márcio Valle

 

Tatuagens exclusivas em todos os estilos

 

Como é o seu processo de criação de desenhos exclusivos para tatuar?

Primeiro penso na ideia, pode ser de um cliente ou algo que eu queira fazer como um flash. Aí penso no local que a tattoo vai ser feita para ver as variações de forma que encaixem melhor com a parte do corpo, para que a tatuagem fique melhor no corpo. Depois começo a buscar referências para o desenho, tento sempre evitar referências de outras tatuagens, normalmente prefiro fotos, ilustrações ou obras de arte. Tendo as referências escolhidas, faço um esboço, se gostar e/ou o cliente aprovar, eu sigo e finalizo a arte já pensando na técnica e na forma que vou fazer a tatuagem.

Quais os estilos de tatuagem você faz? Tem algum que trabalhe com mais frequência?

Eu me considero um tatuador bem completo, mas tem coisas que não me sinto confortável de fazer, como retratos e tatuagens realistas coloridas. Exceto isso, faço um pouco de tudo. Cada vez gosto mais do estilo old school (com traços mais grossos), mas minha linha de trabalho é mais nos estilos preto e cinza e blackwork, um pouco de realismo, geométrico, fineline…

Tem algum tema preferido para desenhar ou tatuar?

Eu não tenho um tema específico, mas gosto de misturar estilos para criar tatuagens diferentes.

O desafio de transformar uma tatuagem

 

Reforma de tatuagem pelo artista Márcio Valle

 

Depois de tantos anos de experiência com tatuagem, agora você também trabalha com reformas e coberturas de tatuagens antigas. Como é esse desafio para você?

Reformas e coberturas são sempre um desafio. Trazer o brilho de volta a uma tatuagem antiga, ou cobrir uma tatuagem que o cliente já não quer mais, exige sempre muito estudo prévio, e bastante calma durante o processo.

Como é o processo de transformação de uma tatuagem antiga?

Normalmente tento aproveitar ao máximo a tatuagem antiga, tanto na hora de reformar quanto na cobertura. A cobertura exige mais estudo em cima do desenho novo, tentando aproveitar ao máximo as linhas do desenho que está embaixo para reduzir o tamanho da tatuagem nova e realmente esconder da melhor forma possível a que está por baixo. Infelizmente não é sempre que é possível fazer uma cobertura. Às vezes temos que indicar que o cliente faça algumas sessões de laser para poder clarear a tatuagem antes de fazer a cobertura.

 

E aí, gostou de conhecer melhor nosso artista? Se quiser continuar acompanhando o Marcio Valle, segue ele lá no Instagram.

Conheça também nossos outros artistas:

× Oi, vamos conversar?